ARTIGO | Uma reflexão sobre a transição necessária na atual gestão da FecomercioSP

Não há no mundo instituição alguma – seja pública ou privada – que prescinda de periódica oxigenação da sua gestão. A alternação periódica do comando, mesmo que não seja obrigatória, pode transformar realidades institucionais e garantir o aprimoramento da gestão em médio e longo prazos.

Todo grupo que exerce o poder institucional possui a natural tendência de apegar-se à cadeira e pretender eternizar-se – não individualmente, mas como grupo; em geral, sob determinada liderança.

No entanto, considerando que a maioria das atividades de comando nas entidades é voluntária e não remunerada, questionamos os motivos dessa tendência, que, à primeira vista, parece ilógica. Afinal, aquele que conduz a gestão de uma entidade dessa importância não o faz sem sacrificar as necessidades de sua(s) empresa(s) e de sua vida pessoal e familiar.

Então, ou essas pessoas são um primor de abnegação, dedicação e apreço a causas públicas, ou o exercício daquelas funções traz, sim, algum benefício individual e coletivo direto ou indireto. Na primeira hipótese, os ganhos são institucionais. No entanto, na segunda, a insistência em permanecer no controle da organização pode custar caro para a instituição, e não para o indivíduo ou grupo.

Não que a recondução ao cargo constitua um mal em si, desde que a permanência envolva dois ou três mandatos indispensáveis para implantar projetos e sistemas e para colher resultados. Nada a censurar neste ponto.

Também não se nega a possibilidade de que esse grupo seja composto, majoritariamente, por pessoas inicialmente devotadas à causa coletiva ou transindividual. Mas a tendência natural é que esse “gás de devoção institucional” esteja presente ao longo do primeiro, segundo ou – vá lá – terceiro mandato.

Mais do que isto, a lógica das coisas é invertida. Presume-se que as vantagens pessoais ou grupais sejam equivalentes ou ainda maiores do que os sacrifícios exigidos do exercício das muitas funções ligadas a esses cargos, a ponto de inspirar no grupo o incontido desejo de permanência.

E quando um grupo está instalado no poder organizacional há 11 mandatos, ou seja, mais de quatro décadas?

 

A longevidade desses comandos grupais não é inteiramente saudável para a instituição, pois, com o tempo, as pessoas que exercem o poder sem significativa oposição tendem a amoldar seu foco inicial (isto é, o foco na organização) às necessidades pessoais (foco individual).

Com o tempo, o empenho inicial do grupo na busca de um objetivo institucional comum desaparece. O trabalho conjunto, antes voltado à realização de interesses robustos da entidade, transforma-se numa realidade nociva, em que os membros do grupo priorizam a ajuda mútua.

Assim, o grupo defenderá sempre apenas seus amesquinhados propósitos, ainda que revestidos de modo a transmitir a seus eleitores uma falsa aparência de apego às causas institucionais. Mas são apenas máscaras e roupas que travestem uma triste e amarga realidade da incessante busca de satisfação de interesses próprios.

É na instituição que todos devemos, permanentemente, pensar e focar.

A rigor, todas as funções exercidas em uma organização precisam obedecer ao comando estruturador de apenas um primado: a subordinação dos interesses individuais àqueles lincados com o bem comum. Esse princípio vale para instituições em todo o mundo, seja na Grécia, no Japão, em Gana, na Holanda ou no Brasil.

A instituição sofre – e muito! –, mesmo que, por vezes, não pareça, com a longa permanência de grupos no poder. Com o tempo, a grandeza das vocações voltadas precipuamente ao bem da instituição se amolda e se apequena à realização, diretamente, do bem do grupo encastelado no poder. Apenas indiretamente se pensa na instituição e tão-somente desde que os objetivos desta não se choquem com os do grupo poderoso.

A constatação dessa realidade certamente culmina em insatisfações de alguns membros como decorrência da atual concepção apenas utilitária da composição das últimas gestões.

Nesse contexto, é possível afirmar que a gestão atual da Fecomercio se distanciou da instituição Fecomercio, apegando-se a um caráter de gestão essencialmente cartorial, desincentivador e impeditivo de qualquer movimento de alternância da cadeira principal. Consequentemente, a gestão começou a se ver como se tivesse direito a uma ‘cadeira cativa’ nos órgãos de direção institucional.

Há um remédio para isto. Algo que impõe a todos uma obrigação lógica: a de que os interesses do grupo não devem prevalecer sobre os interesses maiores e sobrelevantes da entidade.

Este remédio se chama transição!

É chegado o momento de pensar na instituição Fecomercio e desfocar do grupo que, se lhe for permitido, lá permanecerá por quase meio século!

Movidos por amor, fidelidade e respeito à Fecomercio, e não a um grupo específico, estamos organizando empresários e dirigentes sindicais para conduzir os destinos dessa instituição por algum tempo (apenas o suficiente para implantar novos projetos, concepções e ideários) e entregar, em seguida, a instituição para outro grupo, que conte com o apoio da maioria dos empresários do comércio paulista.

Tudo sem apego a cargos e pensando unicamente na Fecomercio e no glorioso futuro a que ela está destinada.

O enfoque moderno na formação de um novo time de gestão sugere que os cargos sejam adequados às pessoas, não o contrário. A lacuna na gestão de cargos culmina, invariavelmente, em insatisfação, desmotivação e (o pior dos males) desinteresse pelos destinos da instituição.

Portanto, devemos pensar em uma nova organização para liderar a entidade maior dos empresários do pujante comércio de São Paulo, estimulando os talentos e valores das pessoas durante a formação das equipes de diretores e identificando suas motivações e habilidades para o trabalho proposto.

Para que não haja fragmentação ou vacilos na formação do time, é necessária uma visão holística do ser humano, que visa sobretudo produção e eficiência dentro da FECOMÉRCIO, com olhos postos na instituição e não em um grupo de amigos.

Apesar da clara fragilidade do atual processo de transição de gestão, enfrentamos o desafio de entender as dinâmicas das relações entre os representantes sindicais e as federações, com o objetivo de reverter expectativas negativas.

Ao longo deste processo que ora se inicia, estaremos trazendo a você, empresário do comércio e dirigente sindical, diversos pontos de reflexão que precisam ser levados em conta para uma decisão consciente no momento de depositar seu voto e sufragar o candidato mais adequado à salvaguarda dos sagrados interesses da FECOMERCIO, devolvendo a ela o protagonismo e o brilho que lastimavelmente tem perdido ao longo destes últimos anos.

Luiz Ramos – Presidente do SINDICOMIS, ACTC E CIMEC

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