O Brasil já é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, mas ainda tem muito potencial de crescimento em mercados de alto valor agregado, como o de alimentos e bebidas saudáveis. Para promover as exportações desse setor, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) realizou a edição Exporta Mais Brasil, em Maceió, Alagoas, entre os dias 10 e 12 de abril, com foco nesse setor.
Seis compradores internacionais, da África do Sul, Índia, China, Polônia e do Canadá, foram convidados pela Agência para ir a Maceió conhecer produtos brasileiros que se destacam quando o assunto é saudabilidade. No total, 20 empresas especializadas em sucos, mel, derivados de coco, alimentos veganos e sem glúten tiveram a oportunidade de participar de mais de 130 reuniões com os estrangeiros. A expectativa de negócios é de mais de R$ 8 milhões em até 12 meses.
A empresária alagoana Mariana Nascimento, fundadora da Marola Laticínios, integrou a rodada para apresentar seus produtos 100% veganos, como o brigadeiro de pote e o cheddar defumado. Com formação em tecnologia de alimentos, ela conta que apostou na pesquisa para buscar os ingredientes que mais se aproximassem do leite, em teor de gordura e sabor, e encontrou o coco e a castanha de caju, abundantes no Nordeste.
“A rodada de negócios foi maravilhosa, pois pudemos aprender sobre como levar o nosso produto para fora do país”, relatou Mariana. Atualmente os alimentos da empresa possuem validade de 2 meses, o que é considerado curto para o mercado internacional. Por isso, a empresária já decidiu que os próximos passos da Marola serão aperfeiçoar esse quesito. “É difícil ser microempreendedora, mãe de um bebê de oito meses, mas estou aqui porque o sonho não acaba”, exaltou.
Produtos e histórias como a da Mariana tocaram os compradores estrangeiros. Creagh Goble, importador da África do Sul, ficou admirado com o que encontrou no Brasil. “Os brasileiros são muito inteligentes na maneira como desenham seus produtos e dedicam muito cuidado a isso. O que mais me impressionou foi que os produtos sempre têm uma história por trás”, destacou. “Eu gostei muito da paixão que as pessoas demonstram pelos seus produtos, elas parecem muito investidas em levá-los para o mundo”, complementou.
Chocolates inteligentes
A empresária Camila Ferraz fez questão de sair do Paraná para participar da rodada em Alagoas. Fundadora da Ahnima, ela se dedica a desenvolver doces a partir de ingredientes nootrópicos, que, segundo ela, potencializam as capacidades cognitivas.
Quando seu pai foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, uma doença degenerativa terminal, Camila passou a estudar os componentes genéticos dessa condição. “Isso inspirou a minha missão de trazer consciência para o nosso cérebro e trazer produtos que possam funcionar no nosso dia a dia”, explicou.
A partir de pesquisas, ela passou a desenvolver bombons com cogumelos. “Conforme pesquisas, eles apresentam potenciais benefícios de até 10 anos de regressão do Alzheimer e criação de novos neurônios”, ressaltou. Após aperfeiçoar o sabor do chocolate, o produto foi para o mercado. “A aceitação foi maravilhosa desde o início, a gente tinha lotes muito pequenos e não conseguia lidar com a demanda”, conta a empresária.
Com apoio da ApexBrasil, a empresa descobriu novas oportunidades exterior. Além da rodada em Maceió, em que os chocolates chamaram atenção dos compradores, Camila já participou de cursos oferecidos pela Agência e do Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX). Além disso, em 2024, a Anhima foi selecionada para participar de feiras internacional por meio dos Brasil Trade Lounges (BTL), espaços reservados para pequenos empreendedores. “Estou submersa no mundo da ApexBrasil, muito feliz por ter todo esse suporte, e com muita expectativa para o futuro”, celebra a paranaense.
Tapioca em Bombaim
Empresários de todos os portes participaram das rodadas, desde os micro e pequenos até as empresas grandes, mas ainda iniciantes nas exportações. A Amafil, por exemplo, empresa paranaense tradicional, com filial em Alagoas, integrou as reuniões para ampliar a atuação internacional. Especializada em derivados de mandioca, hoje a marca está presente em todo o Brasil, e logo passou a angariar clientes no exterior, principalmente para atender o mercado conhecido como “da saudade”, formado pelos produtos que brasileiros expatriados mais sentem falta, como a tapioca e o pão de queijo.
Alimentos como esses, à base da mandioca e sem glúten, têm sido cada vez mais demandados no mundo. Eliel Silva, analista comercial da Amafil, confirma o interesse dos consumidores. “Eles têm se tornado produtos de grande relevância dentro do nosso percentual de exportação, para justamente alguns mercados que a gente explora, como o americano e o português”.
Atualmente, a empresa exporta apenas cerca de 6% da produção, mas a meta é chegar em pelo menos 20%. Os produtos da Amafil geraram interesse no comprador Rohit Gupta, indiano, que estava buscando pão de queijo e tapioca para compor o cardápio do seu café brasileiro em Bombaim. Um conteiner de produtos já está sendo negociado para seguir caminho para a Índia..
Gupta explica que o pão de queijo ainda deve passar por um período de testes e certificações no país, até que os consumidores indianos possam degustar a iguaria brasileira. O empresário vê potencial no produto, que, segundo ele, é próximo do paladar indiano e pode fazer sucesso.