O Brasil e os demais países atravessam um período de significativa conturbação devido à pandemia da Covid-19. Todos os setores do comércio exterior continuam a enfrentar grandes dificuldades neste momento de crise, em função da redução da demanda mundial. Isso se deve às restrições na capacidade de oferta em diversos setores e países e, também, às medidas de isolamento social e restrição de movimentação de pessoas, adotadas por muitas nações.
O mundo globalizado está marcado pela expressiva importância das cadeias globais de valor em setores da economia e pela existência da interconexão entre as diversas estruturas produtivas (cujo bom funcionamento depende do fluxo de mercadorias pelas fronteiras do mundo, o qual hoje, e em sua maioria, encontra-se sob controles rigorosos).
Assim, passamos a viver um presente implacável quanto às possibilidades de se fazer estimativas, previsões e projeções em relação a vários setores – dentre eles, o comércio internacional. Este, desde o início da crise, já impactava severamente nos resultados das balanças comerciais de vários países, dada a relevância da produção do mercado mundial em relação à composição dos tópicos presentes nas negociações.
Estas influências, inicialmente nos mercados dos países asiáticos, geraram extrema desorganização e decomposição em seus projetos econômicos, refletindo nos negócios do comércio a partir de paradas no fluxo de importações e exportações nos diversos mercados mundiais, para atender às redes de clientes globais.
À medida em que o vírus se espalhava pelo nosso planeta, o impacto praticamente tomou contornos de imprevisibilidade quanto à sua extensão territorial. Sendo assim, e de certa forma, tais ocorrências obrigaram os governos e as empresas a se readequar e revisar seus planejamentos (mesmo antes do primeiro trimestre do ano).
É importante dizer que esse novo cenário demanda urgente reorganização das empresas. Não há uma base sólida para a tomada de decisão, tendo em vista a impossibilidade de se vislumbrar o final da crise em curto ou médio prazo – ou até mais! Conforme os níveis de avaria aumentam, o longo prazo parece ser o único e mais certo caminho a ser trilhado, visando a um novo alvo na prospecção de novos negócios.
Diante de tudo isso, já é hora de se buscar um novo horizonte, um pós-crise. E, como em praticamente todas as crises anteriores, surgem oportunidades. É o momento de novos começos, novos desafios, principalmente considerando que a balança comercial brasileira atingiu patamares de bilhões entre importações e exportações em 2019 (segundo dados do Ministério da Economia).
Debruçando-nos mais neste ponto: o Brasil encerrou o primeiro trimestre de 2020 com resultado de sua balança comercial entre USD 49,5 bilhões nas vendas ao exterior (exportações), contra aproximadamente USD 43,9 bilhões nas aquisições do exterior (importações). Se compararmos os dados ao mesmo período do ano passado, nossas exportações atingiam valores próximos de USD 51,1 bilhões, contra USD 42,1 bilhões nas importações, apresentando já nesses primeiros 90 dias do ano diferenças consideráveis em seus valores – momento ainda não significativo sob o ponto de vista de otimismo quanto ao fim da crise do vírus.
Na verdade, são reflexos dos movimentos de caráter estrutural, associados a uma descrença na importância das instituições multilaterais e nos próprios benefícios da globalização para os países, em especial para grupos importantes de trabalhadores e empresas. É possível prever que, uma vez superada a crise sanitária, a economia mundial e o Brasil, em particular, se depararão com um ambiente de negócios internacionais mais propenso a menos imposições de restrições de vários tipos aos fluxos de comércio e, talvez, também aos de investimentos diretos do estrangeiro.
Em tese, uma exposição de valores certamente apresentará diferenças mais acentuadas em relação aos próximos períodos, na medida em que os impactos serão sentidos globalmente, mas com pequenos sinais de retração na economia global – combustível principal para os saldos negativos das balanças comerciais dos países.
Entretanto, devemos seguir aquilo que precisamos enfrentar no futuro, e este já se apresenta como desconhecido, como uma dose muito forte de charada. Isso ocorre exatamente porque é certo que as novas medidas econômicas deverão surtir os efeitos para o restabelecimento das nossas economias, por meio das novas regras e novos procedimentos para as práticas comerciais globais.
Mesmo no início do agravamento da crise, os países mais expoentes no comércio internacional já reviram alguns procedimentos, como a redução tarifária para aquisições de produtos de combate ao coronavírus e as medidas de flexibilização às regulamentações para entradas de produtos médicos, de acordo com suas respectivas regras de vigilância sanitária.
Outro ponto que devemos observar – a segunda recomendação – é que o país evite a adoção de medidas de cunho protecionista e trabalhe junto aos demais países e organizações na busca por soluções que reduzam os conflitos comerciais existentes, além de negociar e ajustar as regras do comércio e investimento, de forma a garantir que os diversos países, e também os diferentes grupos dentro dos países, sejam capazes de reconhecer e captar os potenciais benefícios de uma economia mundial mais globalizada.
Ainda que seja uma economia relativamente fechada, o crescimento do Brasil é muito dependente de um sistema de comércio mundial mais aberto e adequadamente regulado, inclusive no que tange à aplicação de barreiras não tarifárias.
Por fim, assim como qualquer crise, a que se vive hoje apresenta enormes desafios, mas também abre oportunidades – as quais devem ser adequadamente identificadas e para as quais o país deve definir claramente objetivos, estratégias e políticas para tirar o máximo proveito delas.
Esta Nota Técnica chamou atenção para algumas transformações que já vêm ocorrendo e que podem se aprofundar durante e após esta crise.
Boa sorte a todos com o nosso novo cenário mercadológico na captação de novos negócios.
Luiz Ramos – Presidente do SINDICOMIS, ACTC e CIMEC