O transporte rodoviário de cargas no Brasil enfrenta um desafio silencioso, porém crescente: a escassez de novos motoristas e o envelhecimento acelerado da categoria. Dados do Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS) mostram que, entre 2014 e 2024, o número total de motoristas de caminhão em atividade no país caiu de 5,5 milhões para 4,4 milhões — uma redução de 20%, ou o equivalente a 1,1 milhão de profissionais.
A dificuldade de atrair jovens para a profissão é um risco estrutural para as operações logísticas. Em 2024, apenas 4,11% dos condutores tinham até 30 anos, enquanto 11,05% já ultrapassavam os 70, segundo o levantamento do ILOS. A maior parte dos motoristas está concentrada nas faixas etárias entre 51 e 60 anos (1,22 milhão) e entre 61 e 70 anos (898 mil).
Embora não haja, de fato, uma evasão da profissão — ou seja, motoristas que deixem a atividade para atuar em outros setores —, a reposição de mão de obra tem se mostrado insuficiente diante do envelhecimento natural dos trabalhadores. O resultado disso é uma oferta cada vez mais limitada de profissionais qualificados para operar veículos de carga.
Outro fator que pressiona o setor é o modelo de contratação predominante, marcado pela presença do motorista autônomo. Nesse formato, o profissional não só presta o serviço de transporte como também arca com os custos de aquisição e manutenção do caminhão. No entanto, essa lógica pode se tornar insustentável diante das novas exigências do mercado e das dificuldades financeiras enfrentadas por quem está começando na profissão.
Segundo o sócio-diretor do ILOS, Mauricio Lima, a tendência é que as empresas passem a investir diretamente na compra dos veículos e ofereçam contratos mais estruturados aos motoristas, como o regime CLT. Esse movimento já começa a ocorrer em algumas regiões do interior do país, onde a contratação direta tem ganhado força como alternativa para manter a operação.
Essa visão é fortalecida pelo status do mercado de caminhões no Brasil. De acordo com o ILOS, em 2024 o Brasil licenciou 120 mil novos caminhões, resultando em um crescimento líquido de 65 mil veículos.
(Mundo Logística)