As negociações com as companhias de navegação para os contratos anuais de 2026 estão a todo vapor. Em entrevista ao site FreshPlaza, o diretor comercial (CCO) da despachante digital Shypple, Marc van Haaren, compartilha suas percepções sobre o papel atual das transportadoras marítimas, o equilíbrio entre oferta e demanda e as expectativas para o próximo ano.
Segundo o executivo, a dinâmica do frete marítimo em 2025 não difere muito dos anos anteriores — com exceção do período da pandemia.
“Se excluirmos a Covid, que foi uma situação extrema, sempre houve flutuações no frete marítimo”, explica. “As maiores oscilações continuam ocorrendo nas rotas entre Ásia, América do Norte e Europa. No entanto, as tarifas de importação impostas por Trump tiveram grande impacto este ano: muitos clientes repensaram ou pausaram seus fluxos logísticos para observar os desdobramentos.”
Capacidade e controle da oferta
Van Haaren afirma que há ampla capacidade disponível. “Muitas companhias investiram em novas embarcações, o que resultará em mais oferta no próximo ano. A relação entre oferta e demanda está um pouco mais equilibrada”, avalia.
Segundo ele, as transportadoras “aprenderam com a Covid” e passaram a controlar melhor a capacidade, utilizando ‘blank sailings’ (viagens canceladas) para restringir artificialmente o volume disponível e estabilizar preços.
Tendências de preços
Quanto às taxas de frete, Marc explica que a Shypple atua fortemente em fluxos da Ásia e da América Central para a Europa.
“O encerramento do serviço CES em 1º de janeiro terá grande impacto no setor de produtos frescos, especialmente melões e abacaxis. Trabalhamos com as companhias marítimas para reorganizar as rotas. O mercado esteve estável nos últimos dois anos, mas com essa mudança podemos ver um novo desequilíbrio entre oferta e demanda, levando a um aumento das taxas.”
Ele acrescenta que as rotas do Oriente para a Europa seguem mais voláteis.
“Vimos um pico em meados de 2025 e uma queda acentuada depois. Agora, as transportadoras tentam elevar novamente as taxas, impulsionadas pelas negociações dos contratos anuais. O mercado parece caminhar para o patamar que previmos em setembro, durante o evento da Shypple no Hotel New York.”
O impacto da reabertura do Mar Vermelho
Com os sinais de paz no Oriente Médio, a reabertura da rota do Mar Vermelho está mais próxima. “Ainda não é uma mudança imediata, mas já vemos a CMA CGM retomando rotas entre o Oriente Médio e o Mediterrâneo, e novas conexões entre o Extremo Oriente e a Europa”, diz o CCO.
“Mesmo assim, é preciso cautela. Às vezes, o sistema de rastreamento mostra um navio cruzando o Mar Vermelho, mas ele ainda contorna o Cabo da Boa Esperança. Se a rota for realmente retomada, as companhias precisarão coordenar suas chegadas aos portos europeus para evitar congestionamentos.”
Transformação do papel dos despachantes
Com 17 anos de experiência em companhias marítimas — incluindo passagem pela Hapag-Lloyd —, Marc Van Haaren reconhece uma mudança de visão sobre o papel dos despachantes.
“Seis anos atrás, eu teria dito que os despachantes desapareceriam. Hoje vejo o contrário: toda empresa precisa de um despachante. Combinamos tecnologia e serviço humano, oferecendo uma proposta única para o mercado de produtos frescos”, afirma.
Ele destaca o avanço digital da Shypple: “Nosso sistema próprio permite que o cliente acompanhe o contêiner desde a chegada ao terminal. Três anos atrás, ainda explicávamos o que fazíamos; hoje somos reconhecidos como elo essencial na cadeia.”
Expansão e desafios portuários
A Shypple também avança no mercado alemão, aproveitando clientes que operam via Roterdã ou Antuérpia.
“Queremos fortalecer as relações com clientes existentes e continuar crescendo, e isso tem funcionado bem”, afirma Van Haaren.
Ele alerta, contudo, para a perda de competitividade de Roterdã:
“Antuérpia já supera em alguns aspectos de velocidade de operação. E as greves recorrentes em Roterdã paralisam o porto todos os anos durante negociações trabalhistas. É preciso avançar nesse ponto.”
(FreshPlaza)
