Estivadores de todos os principais portos das costas Leste e do Golfo dos Estados Unidos entraram em greve na manhã desta terça-feira, pela primeira vez em quase 50 anos, depois do fracasso das negociações de última hora entre o sindicato e a US Maritime Alliance. O movimento pode repercutir na maior economia do mundo e causar turbulência política a poucas semanas da eleição presidencial.
Os 36 portos afetados têm a capacidade combinada de lidar com até metade de todo o volume de comércio dos EUA, e as paralisações interrompem imediatamente as operações de contêineres e embarques de automóveis. Suprimentos de energia e cargas a granel não serão diretamente afetados. Algumas exceções serão feitas para permitir o movimento de bens militares e navios de cruzeiro.
A importância de uma paralisação em todos os principais portos de contêineres, desde Houston até Miami e Nova York-Nova Jersey, depende de quanto tempo a greve durar. Segundo o JPMorgan Chase & Co., a perda econômica causada pela paralisação, que começou às 00h01 de terça-feira, horário padrão do leste dos EUA, será entre US$ 3,8 bilhões e US$ 4,5 bilhões por dia.
Congestionamentos no transporte marítimo resultantes de uma greve de uma semana levariam cerca de um mês para serem resolvidos, de acordo com Grace Zwemmer, da Oxford Economics.
As ações da A.P. Moller-Maersk A/S, da Dinamarca, e da Hapag-Lloyd AG, da Alemanha, caíram nesta terça-feira, após ambas as empresas de contêineres terem registrado um ganho de mais de 11% em setembro.
A International Longshoremen’s Association está buscando aumentos salariais e a revisão das cláusulas sobre automação em um contrato de seis anos que expirou à meia-noite de segunda-feira.
O líder sindical Harold Daggett ameaçou por meses iniciar uma greve a partir de 1º de outubro, caso nenhum acordo fosse alcançado antes do prazo. A última vez que os trabalhadores portuários das costas Leste e do Golfo entraram em greve foi em 1977.
“Estamos preparados para lutar pelo tempo que for necessário, para permanecer em greve pelo período que for preciso”, disse Daggett em um comunicado postado no Facebook. A última oferta das empresas “ficou muito aquém do que os membros da ILA estão exigindo em termos de salários e proteções contra a automação”.
As operadoras marítimas e os operadores de terminais, representados pela US Maritime Alliance, também conhecida como USMX, acusaram a International Longshoremen’s Association (ILA) de se recusar a negociar desde que o sindicato suspendeu as conversas em junho.
Uma greve era quase certa até a tarde de segunda-feira, quando surgiram relatos de que a Casa Branca esteve em comunicação com os dois lados durante o fim de semana e algum progresso foi feito em relação aos salários.
O presidente Joe Biden, que se orgulha de ser pró-sindicato, disse que a disputa é uma questão de negociação coletiva e que ele não invocaria sua autoridade sob as leis de segurança nacional para ordenar que os trabalhadores portuários voltassem ao trabalho enquanto as negociações continuassem.
Grupos das indústrias de comércio, transporte e varejo têm instado a Casa Branca a intervir para limitar os danos causados pela greve. As transportadoras de contêineres estão se preparando para impor sobretaxas ligadas à interrupção, aumentando o custo geral do transporte.
US$ 2,1 bilhões por dia
“Seria inconcebível permitir que uma disputa contratual causasse um choque tão grande à nossa economia”, escreveu Suzanne Clark, CEO da Câmara de Comércio dos EUA, em uma carta a Biden na segunda-feira.
“Taft-Hartley daria tempo para que ambas as partes em negociação chegassem a um acordo sobre um novo contrato trabalhista”, continuou Suzanne, referindo-se ao ato do Congresso de 1947 que permite a um presidente intervir em disputas trabalhistas que envolvem segurança nacional.
Estimativas da Associação Nacional de Fabricantes mostram que a greve coloca em risco US$ 2,1 bilhões em comércio diariamente, e o dano econômico total pode reduzir o PIB em até US$ 5 bilhões por dia. O presidente e CEO da NAM, Jay Timmons, instou Biden a forçar a retomada das operações enquanto as negociações continuam.
“O presidente pode proteger os fabricantes e os consumidores exercendo sua autoridade, e esperamos que ele aja rapidamente”, disse Timmons em um comunicado na noite de segunda-feira.
O sindicato Teamsters emitiu um comunicado na segunda-feira pedindo ao governo Biden que não se envolva na disputa. O líder da ILA, Harold Daggett, avisou a Casa Branca para não intervir, e disse que, se forçados a voltar ao trabalho, os trabalhadores portuários movimentariam menos contêineres do que o normal, desacelerando as operações.
O sindicato não endossou nenhum candidato presidencial, embora, segundo Daggett, o ex-presidente Donald Trump “tenha prometido apoiar a ILA em sua oposição aos terminais automatizados” durante uma reunião em Mar-a-Lago no outono passado. Nem Trump nem a vice-presidente Kamala Harris chamaram atenção pública para a ameaça de greve.
“Pouco antes, a primeira grande greve de trabalhadores portuários da costa leste em 47 anos começou em portos desde o Maine até o Texas, incluindo na Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey”, disse a governadora de Nova York, Kathy Hochul, em um comunicado logo após a meia-noite.
“Em preparação para este momento, Nova York trabalhou dia e noite para garantir que nossos supermercados e instalações médicas tenham os produtos essenciais de que precisam”, acrescentou a governadora.
Enquanto isso, o fluxo de mercadorias já foi redirecionado pela ameaça de interrupção. Muitos importadores trouxeram seus produtos antecipadamente ou através de portos da Costa Oeste para mitigar o risco e aumentar os estoques.
Os terminais portuários ao longo das costas encerraram suas operações antes do prazo da meia-noite, e as ferrovias também estão reduzindo o serviço.
— A coisa mais importante será que transportadoras, embarcadores e trabalhadores cheguem a um acordo — disse o secretário de Transportes, Pete Buttigieg, no programa “Balance of Power” da Bloomberg Television. — Não há realmente substituto para que os portos estejam operando.
(O Globo)