Uma greve de 45 mil trabalhadores portuários em 36 portos americanos, ao longo da Costa Leste e do Golfo do México, iniciada em 1º de outubro, ameaça desencadear um caos logístico de proporções globais. A paralisação, motivada por reivindicações de melhores salários e restrições à automação, coloca em risco a estabilidade das cadeias de suprimentos mundiais, podendo trazer consequências devastadoras para a economia global.
Com quase metade das importações americanas passando por esses portos, o impacto econômico estimado é de bilhões de dólares por dia. Analistas preveem um aumento da inflação e uma desaceleração do crescimento econômico caso a greve persista. O cenário de navios parados e atrasos em cadeia afeta portos ao redor do mundo, caracterizando uma crise logística internacional.
No centro deste impasse, está a negociação entre o sindicato dos trabalhadores portuários (ILA) e a associação de empregadores (USMX). O principal ponto de discórdia envolve o reajuste salarial e a automação dos portos. A proposta patronal de um aumento de 50% nos salários é considerada insuficiente pelos trabalhadores, que temem a perda de empregos devido à crescente automação.
Enquanto isso, a greve agrava os desafios já existentes nas cadeias globais de suprimentos, como conflitos no Mar Vermelho, seca no Canal do Panamá e eventos climáticos extremos. A Maersk, gigante do transporte marítimo, estima que a normalização do transporte levará semanas, mesmo que a greve dure apenas sete dias.
Quem vai pagar o preço?
A incerteza paira sobre quem arcará com os prejuízos da greve. Companhias marítimas já começaram a declarar “força maior”, isentando-se temporariamente de responsabilidade legal por atrasos. Essa declaração surge após o posicionamento do governo Biden, que, apoiando os grevistas, pressiona as empresas – que obtiveram lucros recordes durante a pandemia – a negociar um acordo justo. Com o impasse, os custos da paralisação podem ser repassados aos diversos elos da cadeia produtiva, impactando importadores, exportadores e, por fim, o consumidor final.
Efeitos em cascata: de alimentos a medicamentos
A greve ameaça uma vasta gama de setores da economia. O transporte refrigerado de frutos do mar, como bacalhau e camarão, depende fortemente dos portos afetados. A interrupção nesse fluxo pode levar à escassez e consequente alta de preços. O setor de eletrônicos, que importa celulares e computadores provenientes do Sudeste Asiático, também enfrenta riscos.
Embora parte do transporte de medicamentos possa ser feita por via aérea, o setor não está imune à crise. Especialistas alertam para o risco de escassez caso a greve dure mais de um mês. A indústria automobilística, que depende da importação de carros europeus e autopeças, também pode ser prejudicada, especialmente pelo impacto no Porto de Baltimore, principal porta de entrada para veículos no país.
Outros setores, como o de máquinas e peças de precisão, também dependem dos portos da Costa Leste. O mercado de bebidas alcoólicas, com importações da Europa, América do Sul e Caribe, também pode sofrer os efeitos da paralisação. Um produto básico como a banana, com 75% das importações passando pelos portos afetados, corre o risco de escassez e aumento de preços, dada a inviabilidade do transporte aéreo.
A paralisação de portos importantes, como Nova Orleans – responsável por 70% das importações de fertilizantes – e Tampa – que concentra mais de 50% das exportações –, agrava ainda mais o cenário. A interrupção no transporte de fertilizantes e insumos preocupa o setor agrícola, que depende de uma logística estável.
A importação de medicamentos, como Ozempic e Wegovy, da Novo Nordisk, já sofre os impactos da greve. Diversas farmacêuticas que dependem desses portos estão recorrendo ao transporte aéreo para garantir o abastecimento, elevando custos e pressionando ainda mais os preços.