1. Balanço de pagamentos
As transações correntes do balanço de pagamentos foram deficitárias em US$8,7 bilhões em janeiro de 2025, ante déficit de US$4,4 bilhões em janeiro de 2024. Na comparação interanual, o superávit comercial recuou US$4,3 bilhões, enquanto o déficit em serviços aumentou US$1,0 bilhão e o déficit em renda primária recuou US$1,1 bilhão. O déficit em transações correntes nos doze meses encerrados em janeiro de 2025 somou US$65,4 bilhões (3,02% do PIB), ante US$61,2 bilhões (2,79% do PIB) no mês anterior e US$24,5 bilhões (1,11% do PIB) em janeiro de 2024.
O superávit da balança comercial de bens atingiu US$1,2 bilhão em janeiro de 2025, ante US$5,6 bilhões em janeiro de 2024. As exportações de bens totalizaram US$25,4 bilhões e as importações de bens, US$24,1 bilhões, redução de 5,9% e aumento de 12,8% na comparação interanual, respectivamente.
O déficit na conta de serviços totalizou US$4,6 bilhões em janeiro de 2025, ante US$3,5 bilhões em janeiro de 2024, crescimento de 28,9%. Nessa base de comparação, aumentaram as despesas líquidas de serviços de transportes, 53,6%, totalizando US$1,4 bilhão; de telecomunicação, computação e informações, 22,0%, totalizando US$1,0 bilhão; e de serviços de propriedade intelectual, 29,1%, totalizando US$768 milhões. As despesas líquidas com viagens internacionais aumentaram 13,1%, para US$1,0 bilhão, resultado dos aumentos tanto de despesas, 7,1% (para US$1,8 bilhão), quanto de receitas, 0,6% (para US$805 milhões).
O déficit em renda primária somou US$5,6 bilhões em janeiro de 2025, redução de 16,2% em relação a janeiro de 2024, US$6,7 bilhões. As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$2,6 bilhões, ante US$2,8 bilhões em janeiro de 2024. As despesas líquidas com juros somaram US$3,1 bilhões, 21,6% inferiores às de janeiro de 2024, US$3,9 bilhões.
Os investimentos diretos no país (IDP) registraram ingressos líquidos de US$6,5 bilhões em janeiro de 2025, ante US$9,1 bilhões em janeiro de 2024. Houve ingressos líquidos de US$4,7 bilhões em participação no capital e de US$1,8 bilhão em operações intercompanhia. O IDP acumulado em 12 meses totalizou US$68,5 bilhões (3,16% do PIB) em janeiro de 2025, ante US$71,1 bilhões (3,25% do PIB) em dezembro de 2024 e US$66,6 bilhões (3,00% do PIB) em relação a janeiro de 2024.
Os investimentos em carteira no mercado doméstico registraram saídas líquidas de US$715 milhões em janeiro de 2025, resultado de ingressos líquidos de US$1,7 bilhão em ações e fundos de investimento e saídas líquidas de US$2,4 bilhões em títulos. Nos doze meses encerrados em janeiro de 2025, os investimentos em carteira no mercado doméstico somaram saídas líquidas de US$8,5 bilhões.
2. Reservas internacionais
As reservas internacionais somaram US$328,3 bilhões em janeiro de 2025, redução de US$1,4 bilhão em relação a dezembro de 2024. Contribuíram para reduzir o estoque de reservas a liquidação de vendas à vista, US$1,8 bilhão, e a concessão de linhas com recompra, US$2,0 bilhões. Contribuíram para elevar o estoque as variações por paridades, US$909 milhões, e por preços, US$766 milhões, e as receitas de juros, US$687 milhões.
3. Revisão metodológica extraordinária das estatísticas do setor externo: viagens internacionais
A Política de Revisão das Estatísticas Econômicas Oficiais Compiladas pelo Departamento de Estatísticas (DSTAT) do Banco Central do Brasil (3ª edição, de junho de 2023) prevê revisões metodológicas em casos de melhorias na metodologia de estimação de variáveis específicas e revisões extraordinárias quando da disponibilização extraordinária de dados, adoção de novas fontes de informações e consequentes atualizações no processo de compilação.
Nesta Nota foi realizada revisão metodológica extraordinária das despesas da conta de viagens internacionais, que compreendeu tanto aprimoramentos na metodologia de estimação estatística quanto adoção de novas fontes de informações, implicando reclassificações dos dados disponíveis. A revisão abrangeu o período de janeiro de 2022 a dezembro de 2024 e realocou transações da Conta Financeira – Outros investimentos – Moedas e depósitos para as Transações correntes – Serviços – Viagens. Ou seja, transações anteriormente classificadas como constituição de depósitos no exterior passaram a figurar nas estatísticas do balanço de pagamentos como despesas no exterior, efetuadas por viajantes residentes.
O método de compilação anterior considerava apenas os contratos de câmbio liquidados sob códigos específicos diretamente ligados a viagens. Entretanto, o avanço da tecnologia financeira e a modernização da legislação cambial, consolidada pela Lei nº 14.286, de 30 de dezembro de 2021, permitiram o surgimento de instrumentos financeiros com menores custos operacionais e maior simplicidade de utilização, facilitando sua adoção por turistas residentes em viagens ao exterior. A transferência de recursos ao exterior, nesses casos, ocorre mediante operação de câmbio no código de depósitos, e não no de viagens. Os contratos de câmbio não apresentam informações que permitam identificar se os recursos depositados serão usados para custear viagens internacionais.
Na revisão, mapeou-se o mercado das instituições financeiras que ofertam esses produtos direcionados a viajantes, a partir das principais instituições que operam constituição de depósitos no exterior para pessoas físicas, em valores individuais inferiores a US$50 mil. Os participantes desse mercado esclareceram os aspectos operacionais dos produtos e o uso da codificação cambial, além de fornecer dados agregados que possibilitassem estimar a parcela de contratos liquidados no código de depósitos a ser estatisticamente reclassificada para a conta de viagens. Os dados agregados fornecidos pelas instituições mostravam se o uso dos recursos depositados no exterior estava associado a um lojista e em qual categoria, e se a compra havia sido realizada de forma presencial. A combinação das duas informações permite inferir se o gasto foi realizado na condição de viajante. A reclassificação ocorreu, portanto, em percentuais diferentes conforme a instituição e o perfil dos seus clientes.
Outras fontes de informação relacionadas a viajantes e ao fluxo internacional de passageiros foram utilizadas para avaliação das novas séries de despesas brutas de viagens, geradas a partir de reclassificações cambiais. Quantidades de passageiros reportada pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e dados do controle migratório, assim como pesquisas de turismo receptivo dos principais destinos dos viajantes residentes no Brasil, serviram de insumo para exercícios de estimação do valor das despesas de viagens esperado após a pandemia. Os exercícios com variáveis alternativas mostraram trajetórias semelhantes, com subestimação das despesas brutas de viagens medidas apenas por meio de contratos de câmbio nos códigos de viagens, ainda que em diferentes intensidades, principalmente no período pós-pandemia.
A pandemia de Covid-19[1] reduziu o fluxo de viajantes internacionais e, consequentemente, as receitas e despesas de viagens internacionais no balanço de pagamentos. Com a diminuição das restrições à movimentação internacional de pessoas, aumentaram, em intensidades distintas, essas receitas e despesas. As receitas de viagens acumuladas em 12 meses apresentaram recuperação pronta e constante e superaram, em agosto de 2023, o patamar pré-pandemia. Esse movimento acompanhou a retomada de ingresso de turistas não residentes, conforme dados da Embratur.[2]
As despesas acumuladas em 12 meses, entretanto, tiveram recuperação mais modesta, sem atingir o nível pré-pandemia. O comportamento da série antes da revisão destoava de dados da ANAC que mostraram aumento de 6,3% no número de passageiros viajando ao exterior em 2024, na comparação com 2019[3], e com dados do controle migratório, que apontaram crescimento de 3,8% no número de residentes viajando ao exterior, na mesma base de comparação.[4] Por outro lado, a série revisada mostra que o patamar pré-pandemia foi superado e que a sua trajetória é condizente com as séries de números de viajantes da ANAC e do controle migratório.
Com a revisão, as despesas líquidas em viagens aumentaram US$1,3 bilhão em 2022, US$3,4 bilhões em 2023 e US$4,8 bilhões em 2024.
Os déficits em transações correntes aumentaram em magnitude semelhante à revisão das despesas com viagens internacionais. Adicionalmente, para 2024, foram incorporadas outras atualizações de menor valor, por exemplo, exportações e importações revisadas pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), que contribuíram para aumentar o déficit em US$0,4 bilhão. Já a constituição de depósitos no exterior, na Conta Financeira, diminuiu nos referidos montantes da revisão das despesas brutas de viagens.
4. Parciais – Fevereiro de 2025
As parciais do câmbio contratado para o mês de fevereiro, até o dia 25, são apresentadas na tabela a seguir:
[1] Segundo a Organização Mundial da Saúde, o período pandêmico iniciou em 11 de março de 2020 e terminou em 5 de maio de 2023.
[3]https://www.gov.br/anac/pt-br/assuntos/dados-e-estatisticas/dados-estatisticos/dados-estatisticos
[4]https://portaldeimigracao.mj.gov.br/pt/dados/microdados/1733-obmigra/dados/microdados/401206-sti