Comércio internacional não é “Carreta Furacão”: precisa de direção e infraestrutura

PANORAMA TRADE

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Produção: Assessoria de Comunicação do SINDICOMIS NACIONAL-ACTC

“Carreta Furacão” é um tipo de trenzinho da alegria que se popularizou no Brasil por suas apresentações irreverentes, nas quais personagens fantasiados de heróis e figuras da TV dançam e interagem com o público de forma caótica e improvisada. Ao longo do tempo, tornou-se símbolo de situações desconexas ou desorganizadas, sendo frequentemente usada como analogia para ações sem planejamento, coerência ou direção clara

O comércio internacional opera em ciclos dinâmicos, por vezes abruptos, como evidenciado durante a atual guerra comercial entre Estados Unidos e China na era Trump. Para um país como o Brasil, fortemente dependente de exportações de commodities e cada vez mais integrado a cadeias globais de suprimentos, esses movimentos exigem uma infraestrutura logística eficiente e, sobretudo, segurança jurídica que dê previsibilidade e confiança aos agentes econômicos.

Lamentavelmente, nenhuma dessas condições tem sido plenamente atendida. Isso afeta as categorias representadas pelo SINDICOMIS NACIONAL/ACTC. Falamos de um contingente de, aproximadamente, 15 mil empresas instaladas em todo o território nacional, que empregam centenas de milhares de profissionais.

De um lado, a demanda por espaços logísticos modernos está em franca expansão, reflexo da aceleração do e-commerce, da reorganização de cadeias produtivas e do crescimento das exportações agroindustriais. Dados da consultoria Binswanger Brazil mostram que a taxa de vacância dos galpões logísticos de padrão A e A+ caiu para 8% no primeiro trimestre de 2025 — o menor índice já registrado —, ao mesmo tempo em que os preços atingiram patamares recordes. Isso revela não apenas a força da demanda, mas também o gargalo de oferta, que tende a se agravar se não houver incentivos e marcos regulatórios mais claros para destravar novos investimentos.

No entanto, essa expansão esbarra em velhos problemas estruturais. O caso do setor cafeeiro é exemplar. Em março de 2025, o Brasil deixou de embarcar quase 640 mil sacas de café devido a limitações logísticas nos portos, especialmente em Santos. O prejuízo direto foi de R$ 8,9 milhões em custos extras com armazenagem, taxas e atrasos. Pior: a perda cambial estimada com a não exportação foi de R$ 1,5 bilhão. Ou seja, mesmo com alta demanda externa e produto pronto para embarque, o país falhou em garantir o básico: que sua infraestrutura acompanhasse a pujança do setor exportador.

Esse tipo de ineficiência se soma a um ambiente jurídico por vezes errático e pouco confiável para investidores estrangeiros e operadores logísticos. A insegurança regulatória, os entraves alfandegários e a falta de uniformização entre agências reguladoras e instâncias do poder público criam um ecossistema de alta imprevisibilidade. Isso compromete decisões de médio e longo prazo, afugenta capital e impede que o Brasil avance para um novo patamar no comércio internacional.

Não faltam anúncios de investimentos. O leilão do Tecon 10 em Santos, a concessão do canal de entrada marítima, o túnel Santos-Guarujá e a nova via na Anchieta são exemplos de projetos estruturantes que podem fazer diferença. Mas, como alertou o Cecafé, são obras com horizonte de entrega em cinco anos — tempo demais para um setor que opera no ritmo do mercado global, onde atrasos de dias já significam perdas milionárias.

O Brasil precisa de um choque de gestão em infraestrutura e de um compromisso real com a segurança jurídica. O setor privado já faz sua parte: investe, expande, absorve risco. Falta o Estado corresponder com eficiência, clareza normativa e celeridade nas entregas. Só assim o país poderá transformar sua vocação exportadora em vantagem competitiva duradoura no cenário global, impulsionar a economia doméstica e, consequentemente, gerar mais empregos e renda.

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