Para Welber Barral, que já foi secretário de Comércio Exterior, o acordo de facilitação comercial assinado na segunda-feira entre Brasil e Estados Unidos é um avanço, mas não deve gerar grandes ganhos de mercado para produtos brasileiros, diferentemente do acerto entre Mercosul e União Europeia.
Ele afirma que gera maior facilitação, mas não novas oportunidades em uma relação bilateral já “madura” entre os dois países.
Como o senhor vê o acordo?
O acordo é bom, ele traz algumas regras de facilitação que são importantes, como o Operador Econômico Autorizado, que terá fast track na Receita Federal e no governo americano, além de criar o Global Entry, o acesso sem filas nos aeroportos, para os brasileiros, e ainda normas de certificações mútuas. Mas são coisas do diálogo comercial contínuo dos EUA com o Brasil, medidas como essa sempre surgem, agora colocaram dentro de um acordo. Mas isso está longe de ser um acordo tarifário ou de livre comércio.
Mas a redução do custo com a burocracia não daria mais competitividade para os produtos brasileiros?
Em tese pode, mas é muito difícil calcular isso. O Operador Econômico Autorizado pode reduzir o tempo de aduana de dez dias para dois, isso tem uma vantagem. Por outro lado, como calcular o fato de um empresário ficar duas horas a menos na fila do aeroporto de Miami? Há um bom sinal de aproximação entre os dois países, mas não se tratou de tarifas.
O acordo foi anunciado a duas semanas das eleições americanas. Há impacto político?
É um grande sinal de aproximação entre os dois países, mas não vejo diferença neste momento, pois o acordo trata apenas de burocracia, sequer precisa passar pelo Congresso americano, onde o Brasil poderia enfrentar resistência de setores como o agronegócio ou do aço, além das questões ambientais. São medidas regulatórias, acredito que até em um eventual governo Joe Biden um acordo como este passaria. Ninguém nos EUA é contra redução de burocracia.
Mas o acordo pode gerar aumento de comércio?
É muito difícil. A relação entre os dois países é muito madura, e o acordo de facilitação surge em um momento de forte queda no comércio dos dois países, por causa da pandemia. Com a economia se recuperando, o comércio intracompanhias, de insumos industriais, deve ter uma recuperação e, depois, um crescimento mais vegetativo. É diferente da negociação entre Mercosul e União Europeia, que, essa sim, abre novos mercados e reduz tarifas. Este acordo com os EUA não abre novos mercados para os produtos brasileiros, facilita onde eles já estão.
(O Globo)