Por: Luiz Ramos
Presidente do SINDICOMIS, ACTC e CIMEC
Os presidentes da República, do Senado e da Câmara; os ministros do STF e do STJ; assim como governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores precisam imediatamente externarem sua ciência e preocupação diante da assustadora onda de empobrecimento da população. E nesse contingente, incluo os dirigentes sindicais das duas esferas, ou seja, laborais e patronais. Mais que cristalizar nossa ciência e preocupação, temos a obrigação, seja ela moral ou legal, de agir agora!
A raiz está na inflação, que vem sendo adubada descaradamente. Assim, parto de um mea culpa. Reconheço que há empresários que estão se aproveitando do momento. Observo restaurantes de grife que multiplicaram o preço dos pratos e dos vinhos – neste último caso, muito além da variação cambial.
Também observo que os itens da cesta básica estão impondo uma dieta restritiva em termos de quantidade e qualidade nutricional à população, excluo os ricos e aqueles que estão ganhando muito dinheiro aproveitando-se desta situação que vivemos. Quanto aos combustíveis, reconheçamos que o barril do petróleo vem subindo assustadoramente e pode aumentar ainda mais, caso a guerra entre a Ucrânia e a Rússia aconteça, mas urge a necessidade de rever a carga tributária que forma seu preço na bomba. Afinal, ele impacta toda a economia, sobretudo a brasileira, pois que não temos uma infraestrutura de transporte alternativo, como malhas ferroviárias ou fluviais, por exemplo.
Isso tudo é apenas parte do que vem alimentando e retroalimentando a inflação, monstro que pensávamos ter morrido no começo dos anos 90. Porém, boa parte da pressão inflacionária brasileira é injustificável – e é justamente essa parte que faz com que nos sintamos extorquidos e coloca em risco a estabilidade social da nação. Insisto: temos que nos unirmos e buscarmos uma solução agora!
Não se trata de alarmismo. É uma constatação que pode ser comprovada a olho nu, nas ruas das cidades, onde milhares de neopobres disputam seu espaço de moradia debaixo de pontes e viadutos, usando barracas ou lonas para acomodarem seus familiares e alguns bens que sobraram, como geladeiras, sofás e cama; nas etiquetas dos preços dos produtos do supermercado; nos materiais escolares, nos IPVAs que podiam ter sido congelados, mas não foram, e assim por diante.
E para piorar ainda mais, a situação deve se agravar em meio às fortes chuvas que castigam alguns estados brasileiros durante este verão – são inúmeros os relatos de pessoas que perderam entes queridos, casas, bens materiais e estabelecimentos comerciais.
E nós, que atuamos no comércio exterior, agora chegamos ao cúmulo do absurdo de vermos nossos clientes sendo vilipendiados escancaradamente. Se não bastassem os absurdos da demurrage e a suspeitíssima falta de contêineres no mundo, os terminais dos portos brasileiros resolveram dar sua impatriótica colaboração para que a inflação continue sendo abastecida.
Vou citar um exemplo que estas entidades tiveram conhecimento há alguns dias: uma carga no valor de R$ 670.000,00, que não foi retirada por uma falha do armador, está custando ao importador R$ 8.000,00/dia. Até hoje (28/1/22), ele já amarga um débito de quase R$ 190.000, sendo que, em seus cálculos iniciais, este não poderia ultrapassar R$ 45.000. Na prática, este custo imprevisível e imponderável vai encarecer o preço final dos produtos e, consequentemente, a inflação.
O governo federal e a ANTAQ precisam intervir com a máxima urgência nessas questões. No caso em tela, não tem como deixar de perguntar: afinal, quem determinou que a carga citada acima fosse, justamente, para aquele terminal portuário? Nossa categoria está chegando ao limite da resiliência em ter que negociar por conta de dificuldades criadas nos porões da burocracia.
O governo federal, por meio dos seus órgãos de inteligência e dos cientistas sociais, sabe que a população está empobrecendo e, muitos, entrando na esfera da miserabilidade. Trata-se de um ponto delicado que pode gerar, em um curtíssimo espaço de tempo, uma instabilidade social enorme. Afinal, esse clima já carrega outras nuvens negras, como a de termos que engolir corruptos sendo soltos ou inocentados, a eterna instabilidade jurídica brasileira, os antagonismos ideológicos extremos e a falta absoluta de qualquer luz no fim de qualquer túnel que pensávamos existir até tempos atrás.