Por: Sergio Ricardo Giraldo, diretor da T.O.C. Terminais de Operação de Cargas Ltda. e 1º Diretor-Secretário do SINDICOMIS/ACTC.
O comércio exterior é um tema fascinante para muitos. O profissional do comex gozava de certo prestígio, pois poucos entendiam o que ele fazia exatamente, por ser um segmento de muitas ramificações. Como exemplo, quando alguém se intitulava freightforwarder, o assunto se complicava ainda mais, pois quem era de fora não sabia o que ele fazia, se comprava e vendia produtos do exterior, se trabalhava na companhia marítima, se era despachante, e por aí seguia.
Houve um tempo em que, independentemente do setor do comex, havia, inclusive, uma competição entre o grupo que trabalhava na exportação e o da importação. O prestígio do profissional de comex ainda existe, sim. Mas as funções foram tão fragmentadas que muitos profissionais cumprem muito bem o seu papel e a sua parte no processo, mas pouco sabem sobre a dinâmica completa – e, por que não dizer, complexa – que envolve uma operação de comex. Isso acontece nas diversas ramificações desta atividade.
Falar de logística aliada à tecnologia é igualmente fascinante. É um assunto que abrange muito mais do que embarcadores, armadores, companhias áreas, freightforwarders, NVOCC, terminais, aeroportos, despachante e transportador. Mas a ideia é focar no transportador como elo desta corrente que vem se desenvolvendo tecnologicamente a cada dia. Falamos da logística 4.0.
Na logística 4.0, o que vemos acontecer é a empresa digitalizando seus processos, reduzindo a interferência humana em muitas decisões e trazendo toda a gestão para a palma da mão, vinda de uma torre de controle criada para gerar números precisos e em real time.
Porém, as empresas talvez estejam esquecendo os demais players da cadeia. Apenas fazendo um paralelo com a gestão sustentável: quantas empresas eliminaram documentos físicos (que, agora, podem ser acessados e baixados de um sistema qualquer), eliminando totalmente a impressão e circulação de papeis, mas esqueceram, no entanto, que a autoridade do outro lado (aquela que fala com o despachante ou com o transportador, por exemplo) ainda exige a papelada física para inspeção?
Então, não houve uma redução no sentido global da coisa. Talvez tenha havido, quem sabe, até um aumento, não havendo mais circulação do documento que passava de um ente para o outro. Agora, todos podem fazer o download do sistema de um cliente e imprimi-lo, cada um o seu. Isso é deixar de pensar em toda a cadeia.
De volta ao tema, o transportador percebe-se esquecido neste meio e, talvez, sem força para avançar, pois ele não é um dos elos mais fortes da corrente.
Para reflexão: o cliente criou um processo digital de janelas de entrega de produtos. O terminal portuário também. Este terminal é a origem da carga do cliente, que seu sistema disponibilizou uma janela para receber uma carga, hoje, às 10 horas da manhã. Mas o terminal terá janela digital para coleta apenas às 14 horas, como se o transportador pudesse voltar no tempo. O pior é que o transportador terá que coletar a carga às 14 horas e mantê-la ou no seu armazém, gerando handling in/out, ou mesmo no caminhão, até a hora ou dia da próxima janela de entrega no cliente, sem lembrar que o transportador tem suas janelas de colaborador (vide Lei do Motorista), zonas de restrição de trânsito, restrição de horários de circulação conforme o tipo de carga, trânsito, tempo de deslocamento e tudo mais que ele enfrenta em sua “aventura” de entregar um produto neste país. Ou seja, em total desencontro ao princípio básico da logística.
Tal como os exemplos acima, que foram apenas para provocar a reflexão do leitor, é certo que cada um, dentro de sua área, encontrará situações bastante semelhantes. A reflexão nos traz a clareza de como as coisas funcionam e onde, como gestores, podemos, através do nosso conhecimento, ajustar o sentido desta evolução.
Convido a todos a refletir!
