O comércio marítimo global enfrenta uma nova fase de aumento nos valores de frete. Nesse sentido, a falta de contêineres se torna uma fonte adicional de pressão de custos. Essa situação é resultado de uma série de fatores, incluindo ataques de rebeldes a navios no Mar Vermelho, que levam ao desvio de rotas e impactam os preços. Além disso, a economia aquecida nos Estados Unidos e o movimento de “nearshoring” no México têm pressionado empresas da América Latina. O “nearshoring” é uma estratégia empresarial em que as empresas transferem suas operações de produção ou serviços para uma região mais próxima do seu mercado principal.
Impacto dos conflitos no Oriente Médio
Os conflitos no Oriente Médio, especialmente os ataques de rebeldes Houthi do Iêmen a navios no Mar Vermelho, em janeiro deste ano, têm um impacto nas rotas marítimas globais. Esses ataques, em resposta ao conflito entre Israel e Hamas, forçam as empresas de navegação a desviar suas rotas, impactando diretamente o acesso ao Canal de Suez e aumentando os custos de transporte.
Desde o início do ano, a taxa de frete marítimo na rota comercial Ásia-Brasil mais que dobrou, passando de uma média de US$ 2.588 a US$ 2.966 em janeiro para US$ 5.440 a US$ 6.773 em abril, para contêineres de 40 pés. Em maio, as cotações atingiram o piso de US$ 8.000 por contêiner, próximo ao registrado no auge da pandemia, de US$ 10.000.
Consequências para a América Latina
Na América Latina, empresas enfrentam dificuldades adicionais devido à preferência dos armadores por rotas mais curtas e rápidas entre a China e a América do Norte ou México, que duram em média 20 dias. Em contraste, as rotas China-Brasil duram de 30 a 35 dias. Nesse sentido, as rotas da China para a América do Norte, Central e do Sul sofrerão um impacto maior comparado às rotas europeias.
O aumento dos custos de frete marítimo afeta produtos de maior valor agregado menos severamente. Todavia, setores como o agronegócio, que dependem de contêineres para exportar commodities agrícolas, sofrem mais. Nesse sentido, produtos como café e açúcar são diretamente impactados pelas dificuldades logísticas.
Empresas como Cosan (CSAN3) e CAOA, que dependem da importação de insumos, já enfrentam aumento de custos. No setor de proteína animal, empresas como JBS (JBSS3), BRF (BRFS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3) também estão sob constante ameaça, pois os contêineres refrigerados acabam sendo bastante afetados em crises como essa. A tendência é, portanto, a de encarecimento do frete para as exportadoras de proteína animal, notadamente carne bovina. Por outro lado, empresas de transporte rodoviário, como a JSL (JSLG3), podem se beneficiar do aumento dos custos de transporte marítimo.
Expectativas futuras
A escalada dos conflitos armados no Oriente Médio tem impactado diretamente o custo do frete marítimo global, que dobrou de valor desde dezembro. Além dos atrasos nas rotas globais, que já ultrapassam 15 dias, os preços do transporte de contêineres no mercado à vista (spot) devem continuar a subir enquanto durarem os confrontos. Segundo especialistas, diferentes setores serão afetados no Brasil, do e-commerce a frigoríficos.
A expectativa é que os problemas se alastrem para Singapura e outros portos do Sudeste Asiático, da Europa e dos Estados Unidos. Os aumentos de custos serão visíveis tanto no percurso principal dos navios quanto no retorno das embarcações.