Após o encontro entre os presidentes Lula e Donald Trump, realizado em 26 de outubro, a entrevista exclusiva concedida pelo senador Nelsinho Trad ao SINDICOMIS NACIONAL/ACTC ganha ainda mais relevância para as categorias representadas por essas entidades, cujas pautas estão tecnicamente alinhadas às posições defendidas por ambas.
O peso das declarações do senador é ampliado por sua atuação na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) e na Comissão Temporária Externa para interlocução sobre as relações econômicas bilaterais com os Estados Unidos (CTEUA).
Nesta entrevista, também o questionamos sobre os impactos da reforma tributária nas transações comerciais internacionais e políticas protecionistas.
Confira:
O ‘tarifaço’ anunciado pelos Estados Unidos em julho ainda está em discussão, mas já provoca reações no comércio internacional. O senhor acredita que o Brasil pode tirar lições práticas desse fato?
O tarifaço reforçou a importância da previsibilidade em uma estratégia comercial sólida e menos vulnerável às mudanças políticas externas.
É justamente nos períodos de estabilidade que devemos cuidar de nossas parcerias e fortalecer o diálogo. É preciso cultivar relacionamentos, manter os canais de comunicação sempre abertos, agir de forma proativa e diversificar nossos aliados estratégicos.
O Legislativo demonstra, por meio da Comissão Temporária Brasil-EUA, que é parte essencial no fortalecimento dessa ponte. Também aprendemos que diversificar destinos e valorizar as cadeias produtivas internas são medidas fundamentais para proteger empregos e garantir a competitividade nacional.
A reforma tributária promete simplificação, mas também levanta dúvidas no setor produtivo. Na sua visão, quais serão os reflexos mais imediatos para os exportadores brasileiros e que papel o Parlamento deve ter para garantir que essa transição não prejudique nossa competitividade externa?
O novo regime fiscal decorrente da reforma tributária mostra-se mais benéfico do que prejudicial ao exportador. Ficou assegurada a não incidência de tributos sobre produtos destinados à exportação.
O modelo adotado é o de IVA não cumulativo, baseado no princípio do destino — ou seja, a tributação recai sobre o consumo interno e a importação, enquanto a exportação permanece desonerada.
Ainda assim, o exportador precisa estar atento às legislações e regulamentações vigentes durante o regime de transição, ajustando sua contabilidade e observando aspectos como o aproveitamento de créditos tributários e o cumprimento de obrigações aduaneiras. Se bem observadas as regras, o novo regime deve conferir maior competitividade internacional ao exportador brasileiro.
Historicamente, o Brasil tem oscilado entre discursos de abertura e práticas protecionistas. Em sua avaliação, qual deve ser o papel do Parlamento para que o país conquiste uma inserção mais sólida e estratégica no comércio internacional, à altura do que fazem outras economias emergentes de destaque?
O Congresso deve atuar como ponte entre o Estado e o setor produtivo para reduzir ruídos e consolidar políticas de longo prazo. A experiência recente com a CTEUA comprovou que o diálogo parlamentar fortalece a diplomacia e gera resultados: parte das sobretaxas americanas já foi revertida e 8% das exportações afetadas retornaram ao mercado. Precisamos buscar constantemente o equilíbrio — um liberalismo responsável.
Acreditamos no comércio internacional como motor do desenvolvimento e rejeitamos o protecionismo como resposta ao atraso e à ineficiência. No entanto, nossa abertura deve ocorrer com inteligência e estratégia, preservando renda e emprego, defendendo setores estratégicos e promovendo a inovação e a competitividade.
Além disso, concessões comerciais precisam ser bem negociadas, garantindo que o acesso dos nossos produtos ao exterior seja compatível com a abertura do nosso vasto mercado consumidor.
