Favorecida pela antecipação dos embarques de soja, a balança comercial de fevereiro teve superávit de US$ 4 bilhões, mais que o dobro do saldo positivo de US$ 1,8 bilhão em igual mês de 2021. Nas exportações, volumes puxaram a variação positiva de valores embarcados, enquanto nas importações, preços fizeram diferença, com queda na quantidade desembarcada. Conforme duração e efeitos, a guerra da Rússia contra a Ucrânia pode mudar a dinâmica de preços e volumes das exportações e intensificar a das importações, aponta José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Em fevereiro, exportações somaram US$ 22,9 bilhões, com alta de 32,6% em relação a igual mês do ano passado, no critério da média diária, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia (Secex/ME). A alta foi puxada por volumes, que cresceram 22,6%, numa taxa maior que a da alta de preços médios, de 13,5%, no mesmo critério. A expansão da quantidade, aponta Castro, foi puxada pela antecipação de embarques de soja, com exportadores aproveitando o bom preço.
Os dados da Secex mostram que, em fevereiro deste ano, foram embarcados 6,3 milhões de toneladas do grão, contra 2,6 milhões em igual mês de 2021. Essa alta na quantidade embarcada de soja em fevereiro, diz Castro, não deve manter a mesma força, já que, por razões climáticas, a safra de grãos deste ano não deve ser tão grande quanto a esperada inicialmente.
Ao mesmo tempo, conforme a evolução da guerra entre russos e ucranianos, pode haver um efeito de pressão de preços nas exportações brasileiras. Esse quadro, porém, é incerto e depende não só da duração da guerra, mas também da reação dos mercados ao conflito.
No lado das importações, o mês não destoou do que se esperava. A importação somou US$ 18,9 bilhões no mês, com alta de 22,9% contra igual período de 2021. O avanço foi comandado pelos preços médios, que avançaram 30,9%, com queda de 2,5% no volume desembarcado.
No primeiro bimestre do ano, as importações somaram US$ 38,7 bilhões, com alta de 23,8% contra iguais meses de 2021. Também nessa comparação, os preços comandaram, com aumento de 29,8%, enquanto a quantidade subiu apenas 0,6%.
Essa é a dinâmica esperada para o ano, observa Castro, com a possibilidade de a aceleração de preços ser intensificada conforme os efeitos da guerra. Não é possível saber, porém, segundo ele, se o fraco desempenho do volume desembarcado no período pode ser atribuído mais ao menor nível de atividade esperado para 2022 ou aos gargalos logísticos e ao descompasso entre oferta e demanda no comércio global.
(Valor Econômico)