Desde o início da sua formação profissional na faculdade de Engenharia da Universidade Federal da Bahia e nos seus 26 anos de trabalho dedicados à Aduana brasileira, a auditora-fiscal Sandra Magnavita sempre lidou com o desafio de se sobressair num meio predominantemente masculino. Até hoje, com frequência, costuma ser a única mulher presente nos encontros de que participa com autoridades públicas e intervenientes do comércio exterior.
Para quem ainda tem uma deficiência física visível e menos de 1,40 m de altura, ela teve de aprender a se comunicar de uma forma bastante assertiva para ser ouvida e poder exercer sua notória capacidade de liderança.
Por suas contribuições para a área aduaneira e por ser uma referência não apenas na Receita Federal, Sandra Magnavita foi indicada e selecionada para ser destaque numa campanha da Organização Mundial das Aduanas (OMA), intitulada “Successful Women in Customs” (“Mulheres de Sucesso na Aduana”).
Veja o perfil de Sandra Magnavita publicado no site da OMA.
Trajetória na Receita Federal e projeção na área de comércio exterior
Quando ingressou na Receita Federal em 1997, Sandra foi trabalhar no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, Galeão. Pouco tempo depois, já estava chefiando a equipe de Exportação da unidade. Seus conhecimentos a levaram a se tornar professora da Escola de Administração Fazendária (Esaf), ministrando uma disciplina sobre Despacho Aduaneiro de Exportação.
“Exportar é o que Importa”. O trocadilho de autoria do ex-ministro Delfim Neto se refere, obviamente, à relevância da atividade para a economia do País. Mas, no caso de Sandra, a frase ganha também um cunho pessoal, uma vez que a exportação sempre foi sua grande paixão na área de comércio exterior.
Um trabalho de conclusão de curso sobre o processo de informatização da Aduana Brasileira, que recebeu a nota máxima, numa Especialização em Comércio Exterior, fez com que ela se firmasse como uma referência no País e passasse 12 anos conduzindo, de norte a sul do Brasil, treinamentos sobre exportação.
Mas foi a partir da experiência que adquiriu ao ser chamada em 2014 para ser a gerente do Projeto de Exportação do Portal Único de Comércio Exterior da Receita Federal que Sandra começou a vivenciar os grandes desafios da liderança e ganhou projeção no cenário nacional.
Essa iniciativa contribuiu significativamente para a redução da burocracia, ao eliminar a redundância de informação, garantindo transparência, rastreabilidade e integridade, gerando eficiência e redução de custos tanto para o governo como para o setor privado.
Experiência como gestora e novo propósito de vida
Com a experiencia profissional de mais de 20 anos dedicados à área de comércio exterior, aliada ao conhecimento na área de gestão e desenvolvimento de pessoas, em 2021, Sandra sentiu que estava pronta para um novo desafio e se candidatou ao cargo de delegado da Alfândega da Receita Federal em Salvador.
Na ocasião, concorreu com um colega tão preparado quanto ela e com larga experiência na área aduaneira. Sandra considera que o fato de ter tido a possibilidade de assumir a gestão da Alfândega “reforça a importância da igualdade de oportunidades, desafia a visão tradicional de liderança e prova que o verdadeiro poder de liderar está nas habilidades cognitivas, emocionais e éticas”.
Há três anos à frente da unidade, ela lidera uma equipe de 80 pessoas. Essa experiência trouxe mais uma paixão: mudar o paradigma de destinação dos produtos apreendidos pela Receita Federal, criando estratégias para remover as marcas e transformar as mercadorias, de modo que possam ser doadas para entidades filantrópicas e pessoas em condições de vulnerabilidade. Para Sandra, fortalecer a cidadania e promover a transformação social se tornaram um propósito de vida.
Recentemente, ela também se tornou secretária executiva da Comissão da Mulher, da Equidade, da Diversidade e da Inclusão da Receita Federal (Cmedi), que tem como um de seus objetivos a formação de lideranças femininas na Administração Tributária.
“Acho que a minha história dentro da Receita Federal demonstra que a competência está acima das questões de gênero e de limitações físicas. Esse reconhecimento internacional de uma mulher brasileira com deficiência no setor público valoriza a Receita Federal, reforça a importância da inclusão e da acessibilidade nos ambientes de trabalho”, disse Sandra.
Ela espera que seu exemplo sirva de incentivo e como catalisador para iniciativas mais amplas de inclusão, tanto no setor público quanto na sociedade, no Brasil e nos demais países.