De acordo com a companhia marítima, tal situação remete à recente recessão no Brasil, quando o país diminuiu as importações, cortando a disponibilidade de contêineres para envio de mercadorias ao exterior. Dessa forma, os exportadores têm agora feito reservas com diversos armadores na expectativa de garantir espaço nas embarcações, mas deixando outros sem lugar, afirmou a Maersk Line.
Na semana passada, por exemplo, a Reuters noticiou que produtores já vêm enfrentando problemas para embarcar café após uma safra recorde.
“Temos dois fatores em jogo: exportadores estão pressionando as linhas de embarque e prejudicando as exportações, reservando muito mais espaço do que o necessário, e o segundo é que eles estão tendo problemas em conseguir caminhões para levar as cargas aos portos”, resumiu o diretor da Maersk Line para a Costa Leste da América do Sul, Antonio Dominguez.
“Em termos de ‘overbooking’, os exportadores estão enfrentando pressão adicional em várias frentes. Em primeiro lugar, você tem a moeda (real) depreciada. Isso pode ser uma coisa boa, porque o Brasil fica mais competitivo. No entanto, aumenta a demanda por um espaço já reduzido nos navios”, acrescentou ele à Reuters, por e-mail.
Conforme o executivo, café e açúcar estão entre as commodities mais afetadas nos últimos meses –o Brasil é o maior exportador global de ambas.
“Os exportadores estão fazendo overbooking de todas as linhas de embarque ao mesmo tempo e, na realidade, estão entregando em média seis dos 10 contêineres que eles reservam”, afirmou Dominguez, acrescentando que uma grande safra de algodão, embarcado em contêineres, também tem contribuído para a redução de espaço nos navios.
Citando dados de mercado fornecidos pela Dataliner, a Maersk Line disse que as exportações em contêineres de café e algodão do Brasil foram 9 por cento menores no segundo trimestre, na comparação anual. As vendas de açúcar nesta modalidade diminuíram 33 por cento.
No geral, a companhia disse que as importações e exportações no Brasil cresceram 12 por cento no primeiro trimestre do ano e apresentaram alta de apenas 1 por cento no segundo, já refletindo os impactos dos protestos dos caminhoneiros, que também levaram os exportadores a impulsionar as reservas em navios.
Pelos seus cálculos, em torno de 200 mil toneladas de mercadorias deixaram de ser exportadas entre julho e agosto. A empresa ressaltou que está revisando suas projeções de comércio exterior do Brasil em 2018 –anteriormente, previa crescimento de 3,4 por cento na movimentação.
Segundo Dominguez, o “overbooking” nos navios está causando ineficiências e custos mais altos para todos os exportadores do setor produtivo, desde indústria até a agricultura.
Na avaliação dele, o jeito mais “rápido, simples e justo” para se resolver isso é adotar o mesmo modelo de reservas usado por companhias aéreas, pagando antecipadamente por reservar espaço nos navios.
No setor, não há atualmente multa para quem não utiliza o contêiner reservado.
A empresa não revelou volume de perdas em função do “overbooking”.
Fonte: (Por José Roberto Gomes) Copyright Thomson Reuters 2018