Setor logístico se prepara para seca no Amazonas

Após dois anos de secas históricas na região Norte, que interromperam o fluxo de navios no rio Amazonas por meses, indústrias e operadores logísticos que atuam na região vislumbram uma estiagem menos severa em 2025. Ainda assim, as empresas têm se preparado para possíveis interrupções no fluxo.

O grupo Chibatão, que tem um dos maiores terminais de Manaus, ainda não cravou se vai montar o píer flutuante que, em 2024, viabilizou a passagem de carga até o porto. Porém, a empresa se prepara para esse cenário, segundo o diretor-executivo Jhony Fidelis.

A companhia está buscando as licenças ambientais e autorizações necessárias para a estrutura, e está deixando engatilhada a instalação de hospedagem para os funcionários que atuariam no terminal “temporário”, disse.

A operação, inaugurada em 2024, foi montada em Itacoatiara (AM), no rio Amazonas, no trecho que em geral impede a passagem. No terminal flutuante, os navios maiores transbordaram a carga para balsas, que demandam profundidade menor para navegar. “Ainda não há dados para dizer se o rio vai secar, vamos aguardar agosto. Mas não podemos cruzar os braços, precisamos garantir a solução caso a estiagem se agrave.”

A Super Terminais, que no ano passado também montou um terminal provisório em Itacoatiara, tampouco decidiu sobre a estrutura deste ano, mas o gerente-geral Julio de Almeida afirma que o grupo conseguiria montar o terminal provisório em apenas dez dias.

“Nos anos de seca antes de 2023 [quando a estiagem atingiu patamar acima do normal], os navios vinham com menos carga, com 70%, 80% de sua capacidade e isso era suficiente para chegar até Manaus. Então, se a seca não for tão grave, podemos usar essa opção. Mas a Super Terminais está preparada para o pior cenário. Já deixamos em Itacoatiara as amarras, as poitas [âncoras], toda a estrutura está lá.” Para ele, após as secas históricas de 2023 e 2024, a análise sobre necessidade de terminais flutuantes deverá ser feita todo ano a partir de agora.

Além disso, parte da indústria ampliou a antecipação de pedidos, para evitar os problemas gerados pela seca, segundo Augusto Rocha, diretor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam). “Antecipar os envios sempre foi um ‘modus operandi’. Mas em 2023 o volume não foi suficiente. Em 2024, novamente foi mais severo do que no ano anterior e nos pegou no contrapé. Então agora algumas empresas se preparam para o pior.”

A antecipação tem sido adotada principalmente por fabricantes de itens com maior valor agregado, segundo Márcio Salmi, diretor comercial da empresa de navegação Norcoast. “Percebemos na segunda quinzena de julho um movimento maior de antecipação, de empresas buscando fugir da taxa adicional cobrada na seca, embora alguns estejam apostando em uma estiagem menor. Depende muito do perfil da empresa, quem trabalha com commodities tem dificuldade de armazenagem.”

Os custos logísticos decorrentes da estiagem nos últimos dois anos tiveram impactos enormes sobre a indústria, afirmou Rocha. Apenas considerando as sobretaxas pagas às empresas de navegação, os gastos adicionais em 2023 somaram R$ 1,5 bilhão. Em 2024, ano que o setor se preparou mais para a seca, o valor foi de R$ 1,4 bilhão, aponta o cálculo da Cieam.

Neste ano, a expectativa é que o custo seja menor, diante da situação dos rios. “Há um crescimento de volume, um ganho de escala. O rio está mais alto e há um aumento da concorrência entre armadores. As empresas de navegação já falaram que existe risco de taxa, mas, nessa época no ano passado, já apareciam os primeiros anúncios de cobrança”, disse Rocha.

Questionado sobre a aplicação de taxas, Salmi afirmou que a cobrança sempre foi feita para compensar a redução de capacidade dos navios durante a seca que acontece todo ano na região. “O que houve é que em 2023 e 2024 a sobretaxa foi maior.”

Além dos terminais provisórios, outra medida adotada pelo governo no ano passado foi o início de um contrato de dragagem firmado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), com o objetivo de garantir a profundidade do rio.

Rocha critica as obras. “Não tem estudos sobre a área, a dragagem não foi útil em 2024 para o trânsito de navios de grande porte. Enquanto não houver estudos, não adianta seguir fazendo”.

Já o Dnit avalia que o serviço tem ajudado. Em nota, o órgão disse que “as dragagens realizadas durante a campanha 2024/2025 atenderam às expectativas” e que, “para a campanha 2025/2026, já estão em andamento os levantamentos batimétricos que subsidiarão o novo plano de dragagem”. O Dnit afirmou que espera uma seca “de menor proporção” e “não se vislumbra, portanto, a interrupção do fluxo de embarcações, especialmente porque as ações pré-dragagem já estão em andamento”.

(Valor Econômico)

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