A logística é complexa. Fatores se entrelaçam com impactos, reflexos e relações de causa e efeito muitas vezes inesperadas.
Veja, por exemplo, o fato de que os armadores se prepararam para uma redução de demanda no início de 2020. Pensaram, diante da iminente retração de mercado: o que resta é a redução da oferta de SLOTS. Em resumo, reduziram a oferta. Ocorreu, entretanto, a manutenção da demanda, sobretudo no segundo semestre de 2020. Com a oferta de espaço reduzida, o mercado viu os fretes subirem de 4 a 5 vezes, em um período de 9 meses, aproximadamente.
Com navios menores, a redução de espaço a bordo não apenas impactou no aumento das tarifas de frete oceânico internacional, mas também resultou em falta de equipamentos em determinados trades, como é o caso do trade Brasil-China-Brasil.
Produtos industrializados costumam ser mais leves e mais volumosos, portanto, utilizam-se majoritariamente de unidades de 40 pés, enquanto os produtos brasileiros, em sua maioria commodities, costumam utilizar containers de 20 pés. É fácil observar que houve um desequilíbrio em termos de estoque e que a redução dos tamanhos dos navios dificultou a realocação destas unidades.
Pior ainda em relação às unidades Reefers que saem do Brasil refrigerando frutas e carnes, mas sem mercadorias refrigeradas de retorno. O desequilíbrio de Reefers foi agravado pela mesma razão anteriormente mencionada: redução de espaço/oferta.
Na tentativa de compensar, os armadores oferecem o retorno das unidades Reefer desligadas, com carga seca, a custos inferiores. Ainda assim, observa-se um desequilíbrio na oferta deste tipo de equipamento para as exportações brasileiras.
Não bastassem fatores exógenos, como a pandemia da Covid-19, tivemos o encalhe recente do navio Ever Given no canal de Suez, impedindo o tráfego de entrada de 50 navios por dia. Alguns armadores decidiram por contornar o cabo da Boa Esperança, elevando o tempo de trânsito de maneira significativa. Felizmente, o navio flutuou após 6 dias, abrindo o canal, que liga o Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo, para a passagem dos navios, até então represados. Possivelmente, sentiremos as consequências nos próximos meses.
Rogério Guimarães
Assessor de Comércio Exterior do SINDICOMIS/ACTC